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Entrevista – O mercado de trabalho e o futuro da pessoa com Síndrome de Down




Na última parte de nossa conversa, vamos abordar as perspectivas dos indivíduos com a Síndrome na vida profissional e o que isso significa para seu desenvolvimento pessoal e para a sociedade. O Professor Doutor Zan Mustacchi, Pediatra e Diretor Clínico do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo, e o Doutor José Rodrigues Coelho Neto, Pediatra e Endocrinologista, opinam a respeito. Leia mais.


Adere – Com relação à vida profissional, como os senhores veem a inclusão da pessoa com Síndrome de Down?

Dr. Zan - Para permanecer e crescer no mercado de trabalho, qualquer profissional precisa se capacitar continuamente, estar atualizado. É isso que o diferencia e o faz capaz de competir com seus pares. As pessoas com Down poderão competir com um número mais restrito de candidatos a uma vaga no mesmo nível de compreensão (com ou sem Down) e, muitas vezes, conseguirão a vaga para determinado serviço, porque podem se sair melhor na prova, por exemplo. Mas, no dia a dia, será que as relações serão positivas? Como será sua conduta diante de uma palavra mais ríspida ou uma crítica destrutiva?


Dr. José - Às vezes, vejo pessoas com a Síndrome trabalhando como atendentes nas farmácias, paradas num canto, não exercendo o seu papel. Não foram adequadamente preparadas para isso. Esse indivíduo precisa de uma pessoa que seja sua referência, que se imponha e que ele respeite no ambiente de trabalho. Acredito que, neste momento, o desafio da inclusão no trabalho se equivale ao início do programa de inclusão nas escolas. Os primeiros serão aqueles que servirão para os empregadores aprenderem como lidar com esta nova exigência da sociedade. Haverá muitos erros, conflitos, insatisfações e, com o tempo, os processos de treinamento, conhecimento e a própria experiência adquirida orientarão os passos que serão seguidos. O mundo está em constante mudança e ficou para trás o tempo em que os pais mantinham seus filhos com deficiência escondidos, presos dentro de casa. Ainda bem!


Adere – Existem expectativas “glamourizadas” sobre o futuro da pessoa com Síndrome de Down, difundidas pelos meios de comunicação?

Dr. Zan – Menos de 2% da população brasileira ganha mais de dez salários mínimos. Dessa porção, 80% ganham entre 10 e 20 salários mínimos e os demais 20%, mais de 20 salários mínimos. Onde estão os outros 80% da população? A dissociação econômica pode ser um dos principais motivos de carência de oportunidades e da falta de cultura para ter informações qualificadas e discernimento. A pessoa com Síndrome de Down, que nasce e vive nesse contexto, provavelmente não terá suporte. Seus pais verão indivíduos com a síndrome na TV, como artistas, professores, empresários. Vão se perguntar, e talvez acreditar, que seus filhos também chegarão lá. No entanto, será que a sociedade vai deixar? Ou só chega lá quem tem suporte para isso?


Adere – Apesar de todos os avanços, ainda há muitos obstáculos a serem vencidos para que as pessoas com Síndrome de Down, em sua maioria, possam viver com mais qualidade de vida...

Dr. Zan - Este tema é muito árido, pesado, difícil de ser tratado, mas é a realidade. Temos 350 mil cidadãos com Síndrome de Down no Brasil. A cada ano nascem cerca de 8 mil. Metade deles tem cardiopatia congênita, sendo que metade destes precisa de cirurgias e na minoria deles há possibilidade de ocorrer situações que poderão refletir negativamente no desenvolvimento de suas habilidades cognitivas. A outra metade não consegue ser operada, por falta de condições, de estrutura. Temos 12 a 15% de indivíduos que sofrem a falência de atenção, de perspectivas, de qualidade de vida. Experimentam o fim da euforia de poder viver bem e, inclusive, de cumprir seu crédito com a sociedade.


As opiniões dos entrevistados são de sua responsabilidade e não reproduzem, necessariamente, a opinião da Adere.

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